É consenso que a obesidade infantil vem aumentando de forma
significativa e que ela determina várias complicações na infância e na idade
adulta. Na infância, o manejo pode ser ainda mais difícil do que na fase
adulta, pois está relacionado a mudanças de hábitos e disponibilidade dos pais,
além de uma falta de entendimento da criança quanto aos danos da obesidade.
De acordo com relatos da Organização Mundial da Saúde, a
prevalência de obesidade infantil tem crescido em torno de 10 a 40% na maioria
dos países europeus nos últimos 10 anos. A obesidade ocorre mais frequentemente
no primeiro ano de vida, entre 5 e 6 anos e na adolescência.
A obesidade está presente nas diferentes faixas econômicas–
no Brasil, principalmente nas faixas de classe mais alta. A classe
socioeconômica influencia a obesidade por meio da educação, da renda e da
ocupação, resultando em padrões comportamentais específicos que afetam ingestão
calórica, gasto energético e taxa de metabolismo. Entretanto, à medida que
alimentos saudáveis, incluindo peixes, carnes magras, vegetais e frutas
frescas, estão menos disponíveis para indivíduos de condições mais restritas, a
relação entre obesidade e baixa classe socioeconômica é observada em países em
desenvolvimento.
Existem vários métodos para classificar o indivíduo em obeso
e sobrepeso. O índice de massa corporal (IMC, peso/estatura2) e a medida da
dobra cutânea do tríceps (DCT) são bastante utilizados em estudos clínicos e
epidemiológicos. Os percentis 85 e 95 do IMC e da DCT são comumente utilizados
para detectar sobrepeso e obesidade, respectivamente. Mais recentemente, tem-se
a tabela de Cole et al., com padrões mundiais para sobrepeso e obesidade
infantil. Outro índice bastante útil é o índice de obesidade (IO, peso
atual/peso no percentil 50/estatura atual/estatura no percentil 50 x 100), que
nos indica quanto do peso do paciente excede seu peso esperado, corrigido para
a estatura. De acordo com esse índice, a obesidade é considerada leve quando o
IO é de 120 a 130%, moderada quando é de 130 a 150%, e grave quando excede
150%. Um grande problema deste método é pressupor que qualquer aumento de peso
acima do peso corpóreo padrão represente aumento de gordura. Assim, nem todas
as crianças com IO superior a 120% são, de fato, obesas. Mas, de qualquer
forma, este método pode ser valioso na triagem de crianças obesas.
A obesidade é fator de risco para dislipidemia, promovendo
aumento de colesterol, triglicerídeos e redução da fração HDL colesterol. A
perda de peso melhora o perfil lipídico e diminui o risco de doenças
cardiovasculares.A qualidade da ingestão é um fator de risco para doença
coronariana e que a ingestão da criança está intimamente relacionada com a dos
pais.
Vários fatores influenciam o comportamento alimentar, entre
eles fatores externos (unidade familiar e suas características, atitudes de
pais e amigos, valores sociais e culturais, mídia, alimentos rápidos,
conhecimentos de nutrição e manias alimentares) e fatores internos
(necessidades e características psicológicas, imagem corporal, valores e
experiências pessoais, auto-estima, preferências alimentares, saúde e
desenvolvimento psicológico).
Dificuldade em estabelecer um bom controle de saciedade é um
fator de risco para desenvolver obesidade, tanto na infância quanto na vida
adulta. Quando as crianças são obrigadas a comer tudo o que é servido, elas
podem perder o ponto da saciedade. A saciedade se origina após o consumo de
alimentos, suprime a fome e mantém essa inibição por um período de tempo
determinado.
Em nosso meio, a obesidade infantil é um sério problema de
saúde pública, que vem aumentando em todas as camadas sociais da população
brasileira. É um sério agravo para a saúde atual e futura dos indivíduos.
Prevenir a obesidade infantil significa diminuir, de uma forma racional e menos
onerosa, a incidência de doenças crônico-degenerativas. A escola é um local
importante onde esse trabalho de prevenção pode ser realizado, pois as crianças
fazem pelo menos uma refeição nas escolas, possibilitando um trabalho de
educação nutricional, além de também proporcionar aumento da atividade física.
A merenda escolar deve atender às necessidades nutricionais das crianças em
quantidade e qualidade e ser um agente formador de hábitos saudáveis.
E lembrem-se pais e mães, vocês são o exemplo em casa!
Dra. Emmiliene Nunes - CRN 9913